sexta-feira, 10 de outubro de 2008

De olhos bem abertos

Seguido eu perco minhas coisas, sou uma pessoa extremamente esquecida. E é incrível como são as menores coisas que perco, que me fazem me irritar em poucos segundos. Principalmente quando há poucos segundos eu estava com a tal coisa na mão ou ao alcance dos meus olhos. É assim com canetas, a escova de cabelo, as havaianas que estavam no meu pé agora mesmo!

Estou arrumando o cabelo, na cômoda a minha frente, a escova e o prendedor. Pego a escova, escovo o cabelo, me distraio com alguma coisa e pronto...o prendedor evaporou....dou voltas pelo quarto, pela casa inteira, olho para os lugares mais impensáveis, reviro tudo e nesse momento já to xingando até o Papa, coitado, que não tem nada a ver com a história. Mas porque diabos meu prendedor sumiu tão misteriosamente? Olho, olho e simplesmente não vejo.
Claro que não preciso dizer que sempre encontro o que perdi no lugar mais idiota, mais na cara que poderia existir. O que dá mais raiva. Como é que não vi...só faltou me morder...

Fico pensando em como a vida é bem desse jeitinho. Muitas vezes estamos passando por uma situação desconfortável, ou que não concordamos, que não nos faz feliz, que sentimos por dentro nos faz sentir que estamos perdidos. Mas, não raro, mesmo que incomode, que nos deixe ansiosos por um não sei quê, inventamos mil desculpas para nós mesmos, na tentativa de nos convencermos que tudo está bem, que tudo pode se resolver por conta, sem nos enfrentarmos.

Também há aquelas situações em que simplesmente vemos a realidade de forma totalmente nossa. O mundo vê diferente, mas nós insistimos que há algo errado na nossa vida, que algo, sim, nos incomoda, que as coisas não estão bem. Mas se pararmos e ajustarmos os óculos, veremos que no fundo tudo vai bem e paciência é o bastante em nosso caso, para que o que falta aconteça. Definitivamente não estamos em situação de vida ou morte como defendemos dentro de nós, como reclamamos todos os dias.
Nos dois casos, certamente cada um tem seus motivos, mas é bem bom se tivermos a maturidade de analisar se estamos vendo com os olhos limpos e abertos. É preciso reconhecer quando algo tem que mudar: caso nossas dificuldades e insatisfações sejam reais. E é preciso coragem para assumi-las e enxergá-las bem ali, no nosso focinho, como um prendedor de cabelo que estava perdido...É preciso ajustar o foco, e, se preciso, usar um bom óculos amigo, daqueles que nos dão as dicas para poder enxergar melhor.

Agora, também temos que aprender a ver quando estamos com mania de desculpas...meu trabalho não é bom porque meu chefe me trata mal, eu não tenho dinheiro porque ganho pouco, eu não sou feliz porque não tenho muitas coisas que queria ter. Bom, nesse caso, acorda. Se teu chefe te trata muito, muito mal, processa, é direito por lei. Mas será que ele é tão monstro assim? Ou você que às vezes dá uns foras por desatenção e acaba despertando a atenção do chato? Que fique claro, quase todo chefe é chato, eles querem o melhor de você e se você não está a fim, vai deixar brecha para reclamações. Tá sem dinheiro? Ganha pouco? Aposto que tem gente que vive com metade do que você ganha. Cria filhos, sustenta a casa e reclama bem menos.

Caso você esteja inventando desculpas para criar caso, chamar a atenção ou coisa do tipo, meu filho desencana...No fundo tua vida deve ser bem legal e tu não está conseguindo enxergar...

E não pensem que estou escrevendo tudo isso como mera crítica aos outros...Seguido eu me pego cometendo esses enganos no meu dia-a-dia: vendo as coisas piores do que são ou querendo amenizá-las a qualquer custo.

Não somos simples e enxergar os motivos é o mais difícil.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Dar já era...Agora o negócio é vender!

Era realmente o que faltava. Aliás, com a liberdade do mundo de hoje é até surpreendente que ninguém tenha pensado nisso antes. Há poucos dias uma jovem americana, bonita, 22 anos, declarou e claro, virou manchete: “quero vender minha virgindade”. Sinceramente a primeira vista não se sabe muito nem o que dizer, né...Afinal, aquilo que no tempo da sua mãe arrancava risinhos escondidos, olhares curiosos, pensamentos (e só eles) sonhadores e bochechas ruborizadas acaba de ser comercializado.

A moça, diz que precisa pagar os estudos, não sei se na tentativa de fazer o ato parecer um pouquinho nobre, ou se para simplesmente justificar sua completa falta de discrição com sua vida íntima.

E a idéia, como deu ibope, obviamente já está sendo seguida mundo a fora. Na Itália, uma ex-Big Brither precisa comprar um apartamento, coitada. Mas, seus problemas acabaram: colocou a sua pureza a venda pela bagatela de alguns bons milhões. A mãe da moça diz que ela é muito religiosa, reza todas as noites. Dá para entender? A moça conversa com Deus e decide capitalizar algo que segundo a Bíblia só depois do casamento e de graça...

Parando pra pensar não sei se é uma bela jogada de marketing ou se uma atitude sem noção. Quem será que vai pagar milhões pelo que pode conseguir aos montes por aí sem pagar nada? Um Brad Pitt da vida é que não vai precisar pagar, então, diante disso, será que elas pensaram que podem ter que perder sua virgindade com um velho barrigudo? Nada contra os velhos barrigudos, mas geralmente na época de perder a virgindade eles ainda não estão nem velhos, nem barrigudos, basta ver as fotos de seus pais...

Mas tirando esse lado ainda tem aquela coisa...que mundo doido esse...essas gurias não sonham em perder a virgindade com alguém bacana? Não falo que precisa ser o grande amor da sua vida, mas no mínimo alguém que você tenha uma certa afinidade, uma pitada de desejo e algum assunto para conversar depois.

A virgenzinha italiana diz que se for bom vai aproveitar, que se for ruim vai beber uma taça de vinho e esquecer...Será que é algo tão insignificante assim? Digo para o mundo todo que minha virgindade tem valor em cash e não em sentimento, digo que quem pagar por mim leva, e que uma taça de vinho é o bastante para esquecer caso eu não goste da coisa...

Só fica uma pergunta: são essas as mulheres que querem ser respeitadas mundo afora? A mocinha que quer pagar os estudos talvez tenha um professor em seu ouvido dizendo que lhe dá um dez caso vá para a cama com ele. Ou talvez um emprego custe uma rapidinha com o chefe no futuro. Qualquer um vai achar que pagando bem...

Sinceramente não queria julgar...cada um tem sua vida e faz dela o que achar mais correto. Mas vender a virgindade, francamente, não passa de prostituição velada por um ar de fetiche e glamour...

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Entre All Stars e Scarpins

Mudar...

Mudar de casa, mudar de vida, mudar de cabelo, mudar de beijo, mudar de objetivo...

Mudar de emprego, mudar de escola, mudar de cor, mudar de calça, mudar de jeito...

Mudar de foto, mudar o perfil do orkut, mudar o horário, mudar o medo...

Mudar o sofá de lugar, mudar de amigo, mudar de vontade, mudar de namorado...

Mudar de shampoo, mudar de futuro, mudar de carro, mudar de cama, mudar de estado...

Já pensou como ficou fácil mudar hoje em dia?Tão fácil que nunca foi tão difícil...

A mudança se tornou superficial: como decidir por uma calça justa ou larga se as duas podem estar na moda ou cair dela a qualquer momento?
Como decidir se vale a pena amar alguém se há tantos tão disponíveis para serem amados?
Como decidir se uma casa é melhor que outra? Se der errado, basta se mudar...

Se o amor não deu certo...basta mudar...

Se a vida não deu certo...MUDE!

Mas, ah...como há medo de mudar...
Há tempos atrás nos contentávamos com vestidos pelo joelho, o marido previsível e o lar como emprego...

Hoje somo livres para mudarmos o mundo (ao menos o nosso) se quisermos..

Mas e quem diz que temos coragem?
Quem diz que suportamos a incerteza de namoros que se não agradarem basta “partir pra outra”?
Quem diz que suportamos o emprego que nos cobra eficiência, no dia em que o filho está doente em casa?
Quem diz que suportamos a idéia de vestir o que quisermos quando nem a roupa mais cara nos faz sentir bem...

Nunca fomos tão inseguras, em nossa inabalável segurança...

Vivemos entre a cruz e a espada: queremos trabalhar fora e ser reconhecidas por isso, mas também queremos comer um bolo quentinho, feito por nós mesmas, com nosso filho, às 3 horas da tarde de uma segunda-feira...
Queremos abalar o sexo oposto, mas no fundo sonhamos com um cara legal que nos dê uma família...
Queremos suar pelo nosso dinheiro, mas pulamos de alegria por dentro quando não precisamos pagar o aluguel ou o supermercado...
Amamos a liberdade de usar uma minissaia, mas nos magoamos intimamente quando o marido não expressa um pingo de ciúmes...
Temos 20 e poucos anos e não sabemos se seremos mais felizes como workaholics ou mães de família...E definitivamente ser as duas coisas é comprovadamente um pensamento falido, pq se estamos no trabalho nos sentimos amarguradas pq queríamos mais tempo para estar com a família, se estamos em casa nos sentimos inseguras pq queríamos nos dedicar mais ao nosso sucesso profissional...Não há como ser 100% perfeita nas duas coisas...algum lado sempre vai ficar de lado...

Não sabemos se queremos mudar da balada para o churrasquinho em família, do tênis para o salto alto, da casa dos pais para o apartamento próprio...
Nos espantamos quando uma criança nos chama de tia, afinal saímos ontem da faculdade...Não aceitamos que os lugares que sempre freqüentamos estejam lotados de adolescentes de 16, 17 anos, afinal você tem 25, mas você jura para você mesma que não mudou muito desde os 17...

Tanta opção de mudança, tanta incerteza não pode nos fazer bem...só deve nos confundir mesmo...
Entre o All Star e o Scarpin, seguimos desejando mudar, mudar, incessantemente mudar, porque nossa liberdade é tão grande que não conseguimos decidir o que é melhor para nossas vidas...Não conseguimos nem ao menos decidir quem somos, quem queremos ser...

É...lutamos, lutamos...pela liberdade, pela igualdade, pela soberania feminina...
Será que no meio da luta pensamos que nosso coração é igualzinho desde que o mundo é mundo?

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Santa segunda-feira...

Esse final de semana amanheci doente: dor de barriga, fraqueza...acho que era o calor. Mas o negócio foi meio sério, tanto que tive que faltar a boa e velha segunda-feira de trabalho. Claro que não muito agradável estar com dor de barriga, mas como sou do tipo otimista (que sempre encherga o lado bom das coisas, mesmo indo no banheiro a cada meia hora) consegui achar bom ficar de cama. Afinal, tenho que dizer...como é bom ficar em casa sem fazer nada em plena segunda-feira!Não adianta, nem mil domingos valem por uma segunda-feira de folga...e a terça, não adianta, não consegue ficar com cara de segunda...Acho que é porque ao invés de pensar na segunda "droga, amanhã tem que trabalhar" tu já pensa "oba, a semana jah vai começar na terça!!! \o/ e consequentemente terminar mais rápido. É assim com as semanas de feriado também...Vai dizer que semana com feriado não passa voando?
Pois é, aí passei eu uma bela segunda-feira de folga...credo não botei o pé nem na sacada...melhor só se estivesse chovendo, para dar aquele climinha de aconchego...
E aí eu me pergunto, porque será que a gente gosta tanto de folga? Mesmo adorando o meu emprego, não vejo a hora de chegar o fim de semana...é sempre assim e é assim com quase todo mundo...Porque nenhum dia apaixonante de trabalho é mais agradável que um apaixonante dia de folga?
E é engraçado porque quando estamos trabalhando menos detestamos tanta folga...não sabemos o que fazer com tanto tempo livre. Hoje trabalhamos várias horas por dia e pensamos em todas as mil coisas que poderíamos fazer se tivéssemos um pouquinho mais de tempo: ir na academia, ler mais bons livros, fazer um bolo que adoramos, assistir o último capítulo da novela. Agora quando podemos fazer tudo isso: pronto, não fazemos nada...
Não lemos, não fazemos coisas das quais gostamos, não cuidamos de nosso corpo ou de nossa mente. E ai vem a pior das situações, a sensação de que você não tá fazendo nada de útil das tuas tão almejadas horas livres. É isso que muitas vezes acontece com pessoas que se aposentam e acabam se deprimindo por ...serem livres para fazerem o que querem na hora em em que sentirem vontade!!!! ou seja, enfim realizam o sonho de todo mortal e não, não conseguem ficar felizes...
O ser humano, bichinho complicado...O problema acho que não é o trabalho, não são as horas livres, somos nós. Quando trabalhamos ao menos ocupamos nossa mente e o final de semana vira serve para carregar a bateria. Agora quando temos todo o tempo do mundo, somos nós com nós mesmos...E aí, conviver 24 horas, 365 dias por ano, apenas conosco, sem um trabalho que nos esconda de nós mesmos é outra história...

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Nós e nossas lembranças

Nós e nossas lembranças. É incrível como não conseguimos viver sem elas. São porta-retratos, um vestido, um bilhete, um presente...não conseguimos dizer adeus a tantas coisas, pelo contrário...como é bom lembrar...no meu caso, sempre tenho a leve sensação de que tudo que passou foi melhor. Não que o hoje não esteja bom, mas aquela turma da escola, aquele almoço com a família reunida, as ruas da antiga cidade...Ah! Parece que tudo enfim se torna mágico...não podemos tocar, mas conseguimos ver até de olhos bem fechados...e sentir...

È engraçado como nos apegamos às coisas que nos fazem lembrar do que passou. Como uma garantia de que não corremos o risco de deixar o que passou para trás. Mas estranho. É justamente algo que sem nos pedir autorização...ficou para trás.
Hoje mesmo vivenciei a perda de minhas lembranças. Não, eu não tive amnésia, mas meu computador pifou, com todas as inúmeras fotos, textos, trabalhos da faculdade, tudo que me mantinha com um pezinho sempre no passado, com aquela sensação de alívio que me dizia “está tudo ali”. Primeiro fiquei em choque. Parecia que tinha perdido minhas referências. Como é que nunca mais ia ver aquelas fotos e (re)ler meus textos?

Acho que isso é o que mais nos hipnotiza no passado. O nunca mais. Sabemos que o tempo não volta. Sabemos que a célebre frase “o que passou, passou” é a pura expressão da verdade. Aí como na maioria das vezes o que não temos parece muito mais interessante, sonhamos com o passado. Até porque sonhar com o futuro é tão incerto. A velha história de que tudo pode acontecer. Agora, o passado não. Sabemos exatamente como ele é. E sem medo de que o destino nos contrarie...sonhamos...

Outra coisa mais engraçada ainda é tentar entender porque as coisas que passaram, passaram. Afinal, porque não sentimos mais aquele cheirinho de pão feito em casa, porque não caminhamos mais na rua que tanto gostávamos, porque não almoçamos mais tão freqüentemente com a família, porque escolhemos o “cada um vai para seu lado” para nossos velhos amigos?
Porque escolhemos deixar tudo virar apenas lembranças?

Bom, depois de meu choque, tive que ir trabalhar e durante o dia me envolvi com a vida que acontecia ao meu redor. Foi aí que pensei...ah, sei lá, não tem o que fazer mesmo...as fotos não vão voltar, mas nem por isso eu não lembro de coisas que merecem ser lembradas. Os textos? Talvez não lembre de todas as palavras, nem da ordem exata de suas frases, mas lembro bem das entrevistas que fiz, das pessoas que conheci, dos dias em passei a tarde na redação escrevendo-os. E foi então que percebi que minhas lembranças sobrevivem mesmo sem fotos para eternizá-las ou textos para comprová-las. O que vivi, está guardado. E em um arquivo muito mais resistente que um vírus. Em uma pasta muito mais difícil de ser deletada.

sábado, 2 de agosto de 2008

Palavras e coisas mal-ditas

Já percebeu como a vida vive em uma corda bamba?
Quando você acha que tudo está seguro...lá vem a vida e te mostra que é preciso estar sempre atento. É preciso sempre cuidar da vida.
Você tem um namorado. Tudo está perfeito. Então uma palavra dita no momento errado, uma frase que saiu de uma maneira, quando você queria que saísse de outra, basta. Ele briga, você não aceita ficar por baixo e no fim o que fica por baixo é a harmonia que existia há um minuto atrás.
Você tem um emprego. De repente, uma atitude cometida sem muita atenção, e pronto, seu chefe não deixa por isso e você leva uma crítica. Basta para acabar com o sol do seu dia.
E tudo isso se estende para qualquer relação que você tenha...a vida é realmente frágil. E só percebemos isso, quando ela nos pega de surpresa...
Semana passada ainda, aconteceu um grave acidente na minha cidade. Oito pessoas morreram. Como eu tinha que cobrir o acontecido, lá fui eu, até no velório. Vi as pessoas ali, em um caixão. Um dia antes elas estavam vivas. Não é mesmo estranho? Fiquei meio hipnotizada, olhando para as pessoas que choravam e pensando, como pode a vida ser tão sensível?
E o pior de tudo é que não é preciso morrer para percebermos que a vida pode mudar em um piscar de olhos. Muitas vezes não pensamos no que fazemos, nem no que dizemos. Simplesmente vamos vivendo. Até a música tenta nos convencer de que é bom "deixar a vida nos levar".
Não discordo totalmente da idéia. É claro que não precisamos, e nem conseguiríamos estar o tempo todo atento à vida, afinal, temos mais o que fazer, não é?
O trabalho nos envolve, os assuntos nos mantém ligados em tudo. Mas não nos preparam para pensar antes de falar ou agir. Quando vemos, as coisas simplesmente aconteceram. Então um se magoa daqui, outro se magoa de lá. E depois que acontece você pensa, poxa, eu não queria magoar ninguém. Pq a gente não pensou antes?

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Sol, sol, sol....Depois chuva, chuva, chuva...




Amanhece o dia e lá está ele, radiante: o tal do sol do Mato Grosso. Venho de um lugar onde chove e faz sol geralmente na mesma proporção. Aí eu chego no Mato Grosso e me dizem que terei que passar por 6 meses sem ver chuva caindo do céu. Você consegue imaginar não ver aqueles pingos molhados caírem sobre o telhado das casas durante 180 dias?
Pois é, o povo daqui já está acostumado. Mas eu fico pensando que dá para esquecer como é a chuva. Inclusive, talvez por saber que ficaria sem chuva por tanto tempo, eu passei a amar chuva. Antes eu já adorava: aquela sensação gostosa que a chuva dá de recolhimento, de silêncio para ouvir as gotas caindo de encontro ao chão. Quando uma chuva começa me dá um impulso inconsciente de simplesmente parar. Parar e observar: a chuva caindo, a água correndo pela rua, a cidade com outra cor, as pessoas andando de guarda-chuva. Parece que com a chuva meus olhos se abrem e eu passo a ver tudo com outro olhar: parece que enfim eu enxergo as pessoas, os prédios, as casas. Eu vejo o mundo e a vida, afinal.


Aí é claro que você pode me dizer que ama o sol: a sensação de alegria e disposição que ele dá. Quando faz sol a gente sente vontade de sair, de andar, de se mover. Abrir as janelas e deixar o sol entrar em casa também é um impulso inconsciente. Ficar trancado dentro de casa com um belo sol brilhando lá fora dá a sensação de que o mundo está girando, que a vida está acontecendo e você está perdendo tudo isso.
Por existir esse contraste de sensações causados pelo sol e pela chuva é que, pelo certo, deve chover um pouco, fazer sol um pouco, aí chove de novo, depois faz sol outra vez, até que se complete o ciclo de um ano e tudo possa começar novamente. O sol é amarelo: energia, vigor, disposição, vontade. A chuva é cinza: acalma, tranqüiliza, faz pensar. E como seres humanos precisamos ora de disposição, ora de tranqüilidade. Então eu me pergunto, como é que ficam os nossos sentimentos só com o sol ou só com a chuva?


Parece que no final de 6 meses de sol vou estar eletrizada, transbordando energia. E no final de 6 meses de chuva vou estar murcha, quase entrando em depressão. Mas, mesmo pensando dramaticamente dessa maneira, no fim todo mundo parece normal por aqui. Então, é sentar e esperar as sensações que me esperam pelos próximo 6 meses.

sexta-feira, 30 de maio de 2008

Pés! Pra que te quero?





Hoje eu estava indo para o trabalho sentindo-me supermoderna com meu tênis de última moda que ganhei de aniversário do meu namorado. Antes de sair de casa me assaltou a dúvida inconsciente que sempre tenho antes de botar o pé na rua: salto ou tênis? Para mim, salto deixa qualquer visual mais elegante e eu adoro usar. Mas o meu tênis é tão bonito e pensei “Poxa, aqui em Porto Alegre do Norte também não preciso andar toda produzida. Afinal, pra quê? Pra quem? Só se for para mim mesma e hoje em especial eu me sentia muito bem comigo mesma e meu tênis todo prateado.
Porto Alegre do Norte é uma cidadezinha do nordeste do Mato Grosso, onde as pessoas se arrumam bem, mas que para mim, que quase não conheço ninguém, realmente não importa nenhum pouco se vou estar de minissaia ou de burca. Aí, lá vou eu saltitante e descolada com meu tênis. É então, que surge, na primeira esquina, uma guria que eu conheço. E eis que seu efeito sobre mim foi o que a maioria das mulheres sente quando vê uma mulher bonita. Ela estava com um vestido provocante, mostrando belas pernas, em uma cor que realçava sua pele, e... uma sandália de salto no mínimo 10 capaz de acabar com a alta estima de qualquer ser humano do sexo feminino.
Porque será que a gente sempre se acha mais feia quando vê uma mulher bonita? Claro que é preciso dizer que isso só vale para nós, mulheres, mortais, que sentimos durante o dia todos os milhares de sentimentos mais comuns à vida de mulheres comuns. Não falo aqui das supermulheres, seguras de si em qualquer situação. Falo aqui de mim e de você, que sim, se sente abalada quando vê uma mulher bonita.
O mais engraçado é que quando a gente sai de casa podemos até nos sentirmos maravilhosas, mas se chegamos a algum lugar ou mesmo esbarramos na rua em uma mulher bonita e arrumada, parece que a roupa dela é mais bonita, que o cabelo dela está mais cuidado, que o rosto dela cintila muito mais que o seu. E olha que há cinco minutos você achava que não tinha pra ninguém.
Certos estão os homens quando dizem que as mulheres vestem-se para as outras mulheres e não venha me dizer que uma mulher bela e arrumada passa despercebida por você. Não adianta, nós somos assim. Você pode até ser segura de si, mas que você sabe dizer - sem ninguém ter percebido que você olhou para ela- a cor da roupa, o jeito do cabelo, a altura do salto de uma mulher que passa e que chama a atenção está usando, ah, isso você sabe.

Samantha Borges, 20/05/2008

E depois das malas, a nova vida...








Pois é, eu arrumei as malas, vendi os móveis, me despedi da família, dos amigos, e botei ó pé na estrada com o meu amor. Cheguei no Mato Grosso, e eis eu, aqui, há 3 meses. As novidades? Vamos lá.
Bom, eu vim trabalhar em um jornal, afinal me formei em jornalismo. Pois foi eu chegar e o tal do jornal resolveu fechar as portas e ir para outra cidade. Putz, mas que azar!! E ai, fiquei eu, a 3 mil km e 600 reais de passagem de distância do que eu chamava de lar...
Pelo menos não fiquei sozinha. Comecei a trabalhar na escola de um dos meus tios e agora para surpresa de todos, e minha lógico, virei dona de loja de artigos esportivos.
O que pensar disso tudo? A vida é mesmo uma caixinha de surpresas como diria Joseph Climber. Sério, morar em uma cidade chamada Porto Alegre do Norte, no meio do nada, onde a única ligação que eu tinha era ter dois tios que moravam nela e que eu via uma vez por ano era completamente inexistente nos meus pensamentos!
Mas, cá estou!

Se entrei em crise?? Humpf! Eu quase enlouqueci. Afinal ser jornalista sempre foi o meu sonho e passei 4 anos no banco de uma faculdade para isso. E tudo ia indo bem, eu fazia estágio em um jornal, ia ser contratada...
É geralmente a gente perde o prumo quando as coisas não saem como imaginamos. E geralmente esquecemos que as escolhas foram feitas por nós mesmos. Essa mesma pessoinha que agora fica reclamando do que aconteceu...
Mas, a questão é que a vida continua girando, o tempo continua passando e eu, eu continuo aqui. Pensei muito em voltar, mas escolher entre amor e profissão é muito cruel. Resolvi deixar rolar.
E sabe que agora eu até posso dizer que gosto daqui? Gosto de ficar da loja, gosto da cidade, eu simplesmente me adaptei...
Vivo bem com o Daniel, já fizemos alguns amigos, ganhamos nosso dinheiro... e no mais a conclusão é que a vida é vida em qualquer lugar.
Eu continuo vendo TV (agora não muito porque trabalho das 7 e meia da manhã até 11 da noite), falando com meus amigos no orkut, comendo pizza, tomando cerveja, , escrevendo (que mais até do que o jornalismo, é o que mais amo fazer), namorando, assintindo filmes, fazendo planos, me preocupando em começar a fazer uma atividade física, falando por telefone com minha família, comendo churrasco no domingo, ouvindo música, vivendo...
Tudo isso não significa também que eu me acomodei. Não trabalhar na minha área continua me tirando o sono, a saudade da minha vida no sul continua me tirando o sono...Mas cheguei a um ponto que pensei: será que não devo dar uma chance à essa nova vida que surgiu do nada e mudou tudo? Acho que às vezes é preciso dar um voto de confiança ao que nos fugiu do controle.

Afinal, ficar 3 dias dentro de um ônibus, viajando por 3 mil Km deve me fazer chegar a algum lugar, não acham?

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Fechando as malas...

Você já parou para pensar se tivesse uma semana para arrumar suas malas, vender suas móveis e embarcar para um estado com milhares de Km de distância da tua família e dos teus amigos...e também do que você considerava sua casa?
Pois é, galera...Isso aconteceu comigo...

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Dessa vez nada de filmes. O assunto sou eu.

Se pedisse para meus pais dizerem quem sou eu talvez eles dissessem que sou uma menina que corre atrás do que quer. Meu pai talvez dissesse “a baixinha não é fácil” e contasse que eu sempre tinha uma reposta na ponta da língua quando era adolescente. Minha mãe talvez dissesse que eu sou muito impulsiva às vezes e “que nasci com asas nos pés”. Por isso o papel dela sempre foi me trazer para a terra.

Se pedisse para meus dois irmãos mais velhos dizerem quem sou talvez dissessem que têm orgulho de mim. O Pablo talvez dissesse que eu quero demais pro meu tamanho e o John talvez contasse que me recebe sempre com um “maninha” e um abraço carinhoso quando volto pra casa.

Se pedisse para meu namorado dizer quem sou eu talvez ele dissesse que sou perfeita. Mas talvez dissesse também que às vezes não me dou conta das coisas erradas que faço. Talvez dissesse que sou companheira para qualquer programa. Ou ainda que se irrita demais com meu sono incontrolável as nove da noite.

Se pedisse para meus amigos dizerem quem eu sou...bom, acho que cada um diria um detalhe diferente. Já me disseram que sou romântica. Já me disseram que sou desprendida. Alguns dizem que sou meiga, outros que sou estressada. Já me disseram que sempre tenho um ombro amigo e que faço coisas de bom coração. Mas também já me disseram que ando desleixada com minhas amizades, alguns já disseram que não lhes dou mais atenção. Mas também já me disseram que sou o tipo de amiga que posso passar meses sem dar sinal de fumaça e mesmo assim, no reencontro, as conversas são as mesmas, eu não mudei. Continuo a mesma amiga de sempre “do tipo que vai ser amiga pra toda a vida”.

Se pedisse para algum chefe dos que já tive dizer quem eu sou talvez ele dissesse que sou uma promissora jornalista. Em fase de aprendizagem ainda, mas dedicada e com um bom texto. Talvez se pedisse para um colega de trabalho dizer quem sou eu ele dissesse que sou quietinha. Outro poderia dizer que sou uma adorável estagiária encomodativa.

Agora, vem o orkut e pergunta para mim mesma quem eu sou. Poderia dizer que às vezes gosto de sol e às vezes de chuva; que choro em filmes da sessão da tarde; que adoro sair, adoro escrever, adoro viajar e ouvir música. Posso dizer que publiquei um texto no jornal quando estava na terceira série e que sonho em ser jornalista desde pequena. Posso dizer que odeio gente estúpida, que detesto ter que gritar com alguém e não suporto gente cheia de não me toques. E diria ainda que já passei cola para ajudar meus colegas, já colei em menor proporção, já gazeei aula e fui parar na secretaria e já fiz promessa com uma amiga pra não chamarem meus pais na escola.

Talvez eu possa dizer que ficava em casa de tarde (talvez por isso goste tanto da sessão) e eu e meu irmão fazíamos nega maluca e comíamos tudo sozinhos. Depois eu escrevia no meu diário “eu comi 8 pedaço de nega maluca. O John comeu 12”. Poderia dizer que comecei a trabalhar com 16 anos, que comecei a sair com 17 e que os amigos dos meus irmãos não ousavam me olhar, porque meus irmãos eram terrivelmente ciumentos. Posso dizer que sempre ia pra casa da minha avó passar as férias e que chegava lá e pedia milho verde e pão caseiro com mel. E dizer também que gosto de comer creme de leite puro (eu sei vc acha nojento, mas eu gosto). Posso dizer que nunca fumei maconha (e nem pretendo), mas que adoro beber cerveja



Poderia dizer que já gastei muito mais tempo da minha vida achando que ia ficar pra titia do que acreditando que iria encontrar um príncipe encantado. E dizer que encontrei uma pessoa maravilhosa bem antes do esperado. Imaginava que ia encontrar perto dos 30 e à beira de um colapso de desespero. Encontrei com 23 e talvez com 30 já seja mãe. E posso dizer que meu pai já foi meu melhor amigo nos momentos em que mais precisei, até para assuntos não muito ortodoxos. E que eu sempre fui a melhor amiga da minha mãe.

Posso dizer que passei em mais de três vestibulares, mas isso não faz de mim um gênio. Odeio física e chutei todas as respostas na mesma letra no vestibular e sim, passei. Posso dizer que já conheci pessoas que mentiam, que se preocupavam apenas com aparências e que se achavam mais por isso. Já fui humilhada e fiquei com o coração ferido. Mas também já encontrei pessoas que me acolheram como filha e muitas que me acolheram como irmã.

Posso dizer que tenho uma família que não cabe só em uma van, que minhas tias bebem feito homens, que quando vou para lá não se pára de comer um segundo. Posso dizer que meu avô tem mil histórias para contar e que minha avó tenta descascar abóbora com o pulso quebrado. Posso dizer que admiro minha família pelas histórias boas e muito ruins que já passaram e que superaram. E todo ano se reúnem para brindar, comer, cantar e dançar.

E poderia dizer que tudo isso me faz ser quem eu sou, mas eu estaria mentindo. Porque aqui não cabem mais as milhares de histórias, de comportamentos e de manias que fazem ser eu a Samantha. Por isso, eu digo que eu não sei quem eu sou. Que não posso dizer simplesmente que sou uma pessoa alegre e de bem com a vida. Ou que sou ansiosa e impulsiva. Isso é muito pouco.

Aliás, qualquer coisa é muito pouco para dizer quem eu sou.