sábado, 16 de novembro de 2013

Na estação


Ele acaba de terminar um casamento de 12 anos e decidiu que precisa aprender a ficar sozinho.
Está descobrindo o prazer de se fazer companhia: em casa, no cinema, no bar.
Ela não namora há 4 anos e decidiu que precisa aprender a se deixar acompanhar: já conhece o prazer de se fazer companhia há muito tempo, em casa, no cinema, no bar.
Ele disse que precisa de tempo. Ela sabe que precisa de par.
Talvez ele nunca mais ligue. Quem sabe ela fique um tempo a esperar.

Ou chega cedo de mais, ou muito tarda, o amor.
Esse trem que custa sua hora acertar.
E é tanto passageiro a perder.
E é muito passageiro a esperar.

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Tristeza não tem fim

É uma tristeza que vem assim, devagarinho, como manso chuvisco. Não há trovoadas, vendavais. A tristeza da morte é suave, porque é infinita. Minha vida sempre foi boa e não gosto de reclamar dela. Mas 2013 me trouxe experiências que desconhecia. Com o desconhecido vieram as atitudes mais comuns, mais piegas, que você houve sempre, de quem passa por alguma dificuldade: você é forte, todo mundo é, quando precisa ser. Primeiro foi um de meus irmãos com câncer. Você só vai sentir a tristeza que é ver alguém que você ama passar por isso, quando tudo passar. Enquanto você precisa ocupar teus finais de semana percorrendo corredores de hospital, segurando a mão no leito, chamando a enfermeira ou simplesmente dizendo "escuta, ele precisa ir imediatamente pra UTI, porque ele não respira", não, você não se sente triste. Você só quer lutar. Mas no final disso tudo, o mais importante é ainda poder lutar. Já a morte, essa te derruba sem chance. Há dois meses perdi meu avô. E a gente não pensa na rapidez da morte. Você pisca e ela chega numa tarde gostosa de sábado. O mundo não se prepara pra receber a morte. Ela só chega. Foi a primeira pessoa que faleceu na nossa família, então, bem, a gente ainda tá vendo no que isso dá. Por hora, vem essa tristeza. Uma tristezinha, que a gente vai sentindo dia após dia por um não sei quê. Um passar de dia diferente. Uma vontade de chorar. E como a gente não tá acostumado com tudo isso, a gente lembra do vô, mas a gente não liga, assim, logo de cara uma coisa com a outra. Porque o toque é tão de leve. É um minutinho pra olhar pela janela. É um segundo pra parar o trabalho. É um momentinho que a gente respira mais demorado. E sente. Sente o espaço que ficou vazio. A cadeira na mesa que sobrou. O radinho que não foi mais ligado no domingo de manhã. O silêncio que a voz não preencheu mais. O chapéu que ninguém mais usou.
É a vida, que não volta.
É a vida, que passou. 

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

E aí você vai embora e eu fico bebendo você


E eu nem sei mais escrever sobre isso. Um dia fui uma pessoa bonita, dessas que transforma um pedaço de papel em poesia. Eu tinha um coração cheio de sonhos e um olhar de quem via tudo, mas ninguém via. Ninguém viu. E eu adormeci.
Adormeci e perdi a capacidade de tocar nos sonhos. De ser livre. De desenhar. Sinto saudade. E me canso. E nem canto mais. Às vezes, em poucas, uma música me faz lembrar do início. Quando eu ainda era. E bastava. E sonhava.
Porque o tempo ainda não havia passado.
Tinha ainda tanto tempo pra sonhar.  

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Adoramos reclamar da normalidade da vida. Rotina, horários, compromissos cotidianos, responsabilidades...tudo parece monótono de mais para corações pós-modernos. Mas é quando você é tirado da obviedade dos dias que percebe como a calmaria é, antes de mais nada, paz de espírito. Quem não consegue conviver com um ritmo naturalmente cadenciado por horas normais, não sabe a falta que isso faz em momentos de tempestade.