quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Nós e nossas lembranças

Nós e nossas lembranças. É incrível como não conseguimos viver sem elas. São porta-retratos, um vestido, um bilhete, um presente...não conseguimos dizer adeus a tantas coisas, pelo contrário...como é bom lembrar...no meu caso, sempre tenho a leve sensação de que tudo que passou foi melhor. Não que o hoje não esteja bom, mas aquela turma da escola, aquele almoço com a família reunida, as ruas da antiga cidade...Ah! Parece que tudo enfim se torna mágico...não podemos tocar, mas conseguimos ver até de olhos bem fechados...e sentir...

È engraçado como nos apegamos às coisas que nos fazem lembrar do que passou. Como uma garantia de que não corremos o risco de deixar o que passou para trás. Mas estranho. É justamente algo que sem nos pedir autorização...ficou para trás.
Hoje mesmo vivenciei a perda de minhas lembranças. Não, eu não tive amnésia, mas meu computador pifou, com todas as inúmeras fotos, textos, trabalhos da faculdade, tudo que me mantinha com um pezinho sempre no passado, com aquela sensação de alívio que me dizia “está tudo ali”. Primeiro fiquei em choque. Parecia que tinha perdido minhas referências. Como é que nunca mais ia ver aquelas fotos e (re)ler meus textos?

Acho que isso é o que mais nos hipnotiza no passado. O nunca mais. Sabemos que o tempo não volta. Sabemos que a célebre frase “o que passou, passou” é a pura expressão da verdade. Aí como na maioria das vezes o que não temos parece muito mais interessante, sonhamos com o passado. Até porque sonhar com o futuro é tão incerto. A velha história de que tudo pode acontecer. Agora, o passado não. Sabemos exatamente como ele é. E sem medo de que o destino nos contrarie...sonhamos...

Outra coisa mais engraçada ainda é tentar entender porque as coisas que passaram, passaram. Afinal, porque não sentimos mais aquele cheirinho de pão feito em casa, porque não caminhamos mais na rua que tanto gostávamos, porque não almoçamos mais tão freqüentemente com a família, porque escolhemos o “cada um vai para seu lado” para nossos velhos amigos?
Porque escolhemos deixar tudo virar apenas lembranças?

Bom, depois de meu choque, tive que ir trabalhar e durante o dia me envolvi com a vida que acontecia ao meu redor. Foi aí que pensei...ah, sei lá, não tem o que fazer mesmo...as fotos não vão voltar, mas nem por isso eu não lembro de coisas que merecem ser lembradas. Os textos? Talvez não lembre de todas as palavras, nem da ordem exata de suas frases, mas lembro bem das entrevistas que fiz, das pessoas que conheci, dos dias em passei a tarde na redação escrevendo-os. E foi então que percebi que minhas lembranças sobrevivem mesmo sem fotos para eternizá-las ou textos para comprová-las. O que vivi, está guardado. E em um arquivo muito mais resistente que um vírus. Em uma pasta muito mais difícil de ser deletada.

sábado, 2 de agosto de 2008

Palavras e coisas mal-ditas

Já percebeu como a vida vive em uma corda bamba?
Quando você acha que tudo está seguro...lá vem a vida e te mostra que é preciso estar sempre atento. É preciso sempre cuidar da vida.
Você tem um namorado. Tudo está perfeito. Então uma palavra dita no momento errado, uma frase que saiu de uma maneira, quando você queria que saísse de outra, basta. Ele briga, você não aceita ficar por baixo e no fim o que fica por baixo é a harmonia que existia há um minuto atrás.
Você tem um emprego. De repente, uma atitude cometida sem muita atenção, e pronto, seu chefe não deixa por isso e você leva uma crítica. Basta para acabar com o sol do seu dia.
E tudo isso se estende para qualquer relação que você tenha...a vida é realmente frágil. E só percebemos isso, quando ela nos pega de surpresa...
Semana passada ainda, aconteceu um grave acidente na minha cidade. Oito pessoas morreram. Como eu tinha que cobrir o acontecido, lá fui eu, até no velório. Vi as pessoas ali, em um caixão. Um dia antes elas estavam vivas. Não é mesmo estranho? Fiquei meio hipnotizada, olhando para as pessoas que choravam e pensando, como pode a vida ser tão sensível?
E o pior de tudo é que não é preciso morrer para percebermos que a vida pode mudar em um piscar de olhos. Muitas vezes não pensamos no que fazemos, nem no que dizemos. Simplesmente vamos vivendo. Até a música tenta nos convencer de que é bom "deixar a vida nos levar".
Não discordo totalmente da idéia. É claro que não precisamos, e nem conseguiríamos estar o tempo todo atento à vida, afinal, temos mais o que fazer, não é?
O trabalho nos envolve, os assuntos nos mantém ligados em tudo. Mas não nos preparam para pensar antes de falar ou agir. Quando vemos, as coisas simplesmente aconteceram. Então um se magoa daqui, outro se magoa de lá. E depois que acontece você pensa, poxa, eu não queria magoar ninguém. Pq a gente não pensou antes?