sexta-feira, 24 de junho de 2011

Na ponta dos dedos


Hoje, andar de mãos dadas é mais complicado que descolar um beijo*.

Engraçado. Lembro claramente que rejeitei as mãos que tentaram se entrelaçar às minhas não somente na última vez, mas também na penúltima. Engraçado, porque pensei que talvez se esse gesto de segurar minha mão na rua tivesse sido feito há alguns anos atrás, eu me sentiria super reconhecida e feliz. Radiantemente esperançosa. Porém, lembrei que quando tinha 17 anos, um menino com o qual eu havia ficado foi no recreio da escola me encontrar e quis pegar na minha mão. Eu rejeitei seus dedos.
Mas o mais engraçado ainda de tudo isso, é que esses garotos que tentaram segurar minha mão e foram rejeitados, já tinham me beijado. 
Possível conclusão da história: dar as mãos pode ser mais íntimo que um beijo nos lábios?
No meu caso, sim. Segurar minha mão, encaixar-se em meus dedos, não é para qualquer um. Um beijo pode ser uma simples expressão de desejo. Passageira (o que também não significa que saio por aí beijando quem aparece na frente). Mas segurar minha mão não tem a ver com isso. Segurar minha mão é começar a construir uma ponte. É um primeiro tijolinho de reconhecimento. O primeiro pilar de aceitação.
O que não significa também que essa ponte não irá ruir em poucas semanas. Que não se despedaçará em meio ao rio antes mesmo de chegar até o outro lado. Que não ficará suspensa, na correria da vida de cada um. Mas isso é outra etapa.
Antes de saber se vai dar certo ou não (o que aliás ninguém nunca sabe, a não ser se atrevendo a cruzar a ponte) é preciso conversar pelos dedos. Não precisa olhar nos olhos. Você toca na outra mão até de olhos fechados. E sente. Sente que há alguém ali. E que esse alguém quer se entrelaçar. E de repente duas mão viram uma só. Se encaixam. Se seguram. Se guiam.
Enfim, em menos de um segundo, sem mesmo olhar nos olhos, você sabe que se encontrou.
Engraçado isso. Muitos procuram em um beijo. Muitos procuram em um olhar.
Eu, procuro de olhos fechados, em um dedilhar...
Mas como diria uma frase de um filme, no final das contas "não é lógico. É amor". 

...
*Frase tirada de uma crônica de Fabrício Carpinejar.

domingo, 5 de junho de 2011

Ao amor

Contrariando minha recorrente racionalidade diante do amor, descobri.

Quero despedaçar meu coração em troca de um ínfimo segundo de amor sublime.

Pronto.
Minha mãe me diz: amor não é aquela paixão enlouquecedora, que nos faz perder a razão. Amor é companheirismo, carinho, cuidado.
Mas então porque eu não quero, do fundo do meu coração, quem me oferece isso?
De repente me pego acreditando que ser amigo, é ser amor. Ser amor, é também ser amigo. Mas ser mais amigo que amor é cair no comodismo. 
Quase caí nessa tentadora resignação...
É errado querer que minhas pernas falseiem, que meu corpo se dilua?
É isso que eu quero. Quero um amor visceral, que segure minha mão, mas não me segure por inteira. Não quero segurança. Quero flutuar.
Já sei o que é ser amada. Será que agora posso descobrir o que é amar?
Quero fogo, nos olhos. Vento, nos dedos. Som, no coração.
Quero ter certeza. Quero ter a sorte. 

Que eu ame por um instante...
Basta.

...
Batido, mas eterno e universal:
"Como ja dizia o poeta
Quem já passou por essa vida e não viveu
Pode ser mais, mas sabe menos do que eu
Porque a vida só se dá pra quem se deu
Pra quem amou, pra quem chorou, pra quem sofreu
Ah, quem nunca curtiu uma paixão nunca vai ter nada, não
Não há mal pior do que a descrença
Mesmo o amor que não compensa é melhor que a solidão
Abre os teus braços, meu irmão, deixa cair
Pra que somar se a gente pode dividir
Eu francamente já não quero nem saber
De quem não vai porque tem medo de sofrer
Ai de quem não rasga o coração, esse não vai ter perdão
Quem nunca curtiu uma paixão, nunca vai ter nada, não"
Vinicius de Moraes