terça-feira, 25 de agosto de 2015

Raios de sol

E então, depois de um dia inteiro de chuva que lavou os telhados das casas, o novo dia que trouxe sol, transformou.
Ele continuava sendo ótimo: do bem, como ela queria. De boa, como ela queria. E continuava tendo aquele sorriso, aquele sotaque... Mas a partir daquele dia de sol, ela sabia que talvez não seria suficiente. E isso não vinha pesado, triste. Não trazia medo ou palpitações. Isso vinha com a mesma tranquilidade com que o sol agora aquecia as janelas das casas ainda de cortinas fechadas. Fazia um friozinho bom e enrolar- se nas suas cobertas e na sua própria alma era seguro e aconchegante.
Não sabe bem qual foi o motivo da mudança. Mas sabia que tinha algo a ver com não poder sonhar. Ela vivia de sonhos, quem é que não vive? O presente pode ser o maior presente da vida e a única coisa que temos de verdade nas mãos, mas isso nunca a impediu de perder-se na imaginação do que ainda virá. Nada lhe fazia brilhar mais o olhar do que ter borboletas voando em seus pensamentos: um novo começo, uma mudança de cidade, um novo trabalho, qualquer coisa que a fizesse querer seguir atrás da luz.
E assim precisava ser também o amor. O amor precisava lhe acenar um futuro bom, porque detestava coisas problemáticas, difíceis, que não levavam a lugar algum. Ela só queria um amor em paz, que lhe apontasse um caminho bonito. Ela sabia que não existiam garantias. Mas a possibilidade tinha que carregar raios de sol e não de chuva.
Uma pontinha de tristeza só surgia quando ela pensava que talvez ele se tornasse só mais um. O que vivem é tão luminoso e leve. Com sorrisos coloridos, abraços transparentes e olhares tão amigos.
Não queria, mas o que fazer? Isso não dependia dela.
De qualquer maneira, sabia que é impossível segurar o tempo.
Em alguns momentos até se questionava: será que algo poderia surpreendê-la? Mas por ora, ainda preferia responder a si mesma:  o tempo certo sempre vem, trazendo as mudanças que nos farão bem...

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Lembranças

Sunshine, one claire day
My girl, talk about my girl….

Minha música despertador ressoava quarto afora. Já fazia 3 anos que My girl era minha música de despertar. Por pior que tivesse sido o dia anterior, ou muito pior ainda, por pior que tivesse sido a noite anterior, essa era a música que me fazia sorrir antes de abrir meus olhos de manhã. Ela me dava a sensação de uma esperança absurda na vida e no novo dia que estava nascendo. Com ela, ainda de olhos fechados, eu tinha as minhas melhores lembranças, como por exemplo, acordar numa manhã de domingo  ouvindo o barulho das árvores dançando com o vento na casa da minha avó. As árvores da minha avó adoravam dançar com o vento, especialmente nas manhãs de domingo. E eu me sentia a pessoa mais feliz do mundo quando acordava com aqueles passos de dança.
Ou então, ainda falando de casa de vó, quando eu me perdia no meu quadro preferido, que enfeitava a sala da casa velha. Ele não era uma obra prima, nem muito bonito ele era. Mas eu era criança e ele me contava muitas, muitas histórias. Eu ficava parada olhando pra estrada na beira das montanhas pintadas naquela imagem e o homem que seguia  de costas aquele caminho me hipnotizava. Eu sempre tive a sensação que, de alguma forma, eu vivi naquele lugar. Eu ficava imaginando pra onde aquele homem estava indo e pensando o que tinha atrás daquelas casas, montanhas, estrada. Talvez eu fosse uma criança sonhadora demais, mas a casa da minha avó era um convite pra imaginação. Eu ia pra casa da minha avó praticamente uma vez por ano e o nome da vila onde minha avó morava era Coronel Finzito. O que se pode esperar de um lugar que se chama Finzito? Era um finzinho de mundo, um lugar perdido, onde eu encontrava tempo pra sonhar e viver outras vidas.

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Não tão simples assim

A vida ainda padecia de sentido. Por qual motivo, quanto mais você preenche a vida, mais espaço há para preencher?  Não existe mais o terreno do nada. A estrada que se percorre só pra se divertir no caminho. Agora tudo pesa, tudo é grande, tudo exige. O sono que antes era leve, não suporta mais a sensação de dever cumprido porque sempre há mais a fazer.


E isso que nem to falando de amor. Desde que me entendo por gente, amor é falta. Ele nunca esteve ali, preenchendo seu espaço, como moço educado. Ele sempre sentou no lugar errado, no lugar de outra pessoa. E se via tendo que levantar rapidinho, pra dar lugar a quem comprou a passagem. Falta amor, desde sempre. E o resultado disso, só podia ser um: sobra fantasia. Sobra expectativa. Na falta de realidade, a ilusão toma conta pra me manter viva.