Hoje, andar de mãos dadas é mais complicado que descolar um beijo*.
Engraçado. Lembro claramente que rejeitei as mãos que tentaram se entrelaçar às minhas não somente na última vez, mas também na penúltima. Engraçado, porque pensei que talvez se esse gesto de segurar minha mão na rua tivesse sido feito há alguns anos atrás, eu me sentiria super reconhecida e feliz. Radiantemente esperançosa. Porém, lembrei que quando tinha 17 anos, um menino com o qual eu havia ficado foi no recreio da escola me encontrar e quis pegar na minha mão. Eu rejeitei seus dedos.
Mas o mais engraçado ainda de tudo isso, é que esses garotos que tentaram segurar minha mão e foram rejeitados, já tinham me beijado.
Possível conclusão da história: dar as mãos pode ser mais íntimo que um beijo nos lábios?
No meu caso, sim. Segurar minha mão, encaixar-se em meus dedos, não é para qualquer um. Um beijo pode ser uma simples expressão de desejo. Passageira (o que também não significa que saio por aí beijando quem aparece na frente). Mas segurar minha mão não tem a ver com isso. Segurar minha mão é começar a construir uma ponte. É um primeiro tijolinho de reconhecimento. O primeiro pilar de aceitação.
O que não significa também que essa ponte não irá ruir em poucas semanas. Que não se despedaçará em meio ao rio antes mesmo de chegar até o outro lado. Que não ficará suspensa, na correria da vida de cada um. Mas isso é outra etapa.
Antes de saber se vai dar certo ou não (o que aliás ninguém nunca sabe, a não ser se atrevendo a cruzar a ponte) é preciso conversar pelos dedos. Não precisa olhar nos olhos. Você toca na outra mão até de olhos fechados. E sente. Sente que há alguém ali. E que esse alguém quer se entrelaçar. E de repente duas mão viram uma só. Se encaixam. Se seguram. Se guiam.
Enfim, em menos de um segundo, sem mesmo olhar nos olhos, você sabe que se encontrou.
Engraçado isso. Muitos procuram em um beijo. Muitos procuram em um olhar.
Eu, procuro de olhos fechados, em um dedilhar...
Mas como diria uma frase de um filme, no final das contas "não é lógico. É amor".
...
*Frase tirada de uma crônica de Fabrício Carpinejar.