sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Dona Maria

Esses dias fui fazer minha caminhada rotineira, minha maneira mais eficiente de mandar o stress pra lá desde que tinha 13 anos. Subindo a umas 2 quadras daqui de casa eu avisto uma senhora. De bengalinha na mão, cabelinho branco, magriiinha, caminhando pela rua. Nossa, pensei eu, é a Dona Maria!

A Dona Maria é uma velhinha que foi minha vizinha de porta quando eu tinha 3 ou 4 anos de idade. Claro que eu não me lembro muito dela, mas o que lembro bem é que naquela época, isso há 21 anos atrás, ela já era uma velhinha!

A Dona Maria é daquelas pessoas que estão presentes na tua vida, sem fazer parte dela. Eu nunca tive qualquer contato com a Dona Maria além daquele do qual eu não me lembro, já que era muito criança. Mas ao longo da vida sempre ouvi minha mãe falar dela, que sentia saudade, que gostava muito da Dona Maria. O mais engraçado é que desde os meus 6 anos moramos a duas quadras da Dona Maria e minha mãe nunca foi visitá-la. Tampouco eu, que sempre guardei dela apenas lembranças das quais eu não lembro materialmente, mas que estão na minha memória.

Se a Dona Maria soubesse que morri de vontade de pará-la ali no meio da rua e dizer "Dona Maria! lembra de mim, filha da Isabel, que morava na frente da sua casa..." Mas eu acho que ela não lembraria. Afinal, como ela vai lembrar de alguém que não conhece? Afinal quem ela conheceu foi uma menininha que brincava com baldinho e peixinhos de plástico na areia do pátio de casa.

Eu nem conheço a Dona Maria, mas eu gosto dela. É estranho como sinto que ela faz parte da minha história. E fiquei realmente encantada por vê-la viva, caminhando pela rua. Pq quando somos crianças, a idéia que fazemos é de que, quando formos adultos, velhos serão os nossos pais e não os velhinhos que já eram velhinhos. Fiquei pensando quanta história a Dona Maria não teria pra contar! E ouvindo suas histórias, que aparentemente nada tem a ver com a minha, eu sei que sentiria uma saudade inexplicável de tudo.

Como pode a gente sentir saudade até do que não viveu e até mesmo do que existiu apenas na nossa mente, nos nossos sonhos? A verdade é que a Dona Maria me remete a um tempo bom. Mesmo que ela não apareça materialmente nas minhas lembranças desse tempo, ela é, sem dúvida, um elo com meu passado.

Pra ver como às vezes pessoas que apenas passam por nós, conseguem nos deixar marcas muito mais fortes e vivas do que muitas que andaram anos ao nosso lado. Não é afinidade, não é convivência, não há palavra que explique. Me sinto ligada à Dona Maria por um sentimento que vai além do que podemos definir ou teorizar... Essas coisas tênues que a vida tem...pequenos mistérios que fazem a vida mais mágica...

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