segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Tristeza não tem fim

É uma tristeza que vem assim, devagarinho, como manso chuvisco. Não há trovoadas, vendavais. A tristeza da morte é suave, porque é infinita. Minha vida sempre foi boa e não gosto de reclamar dela. Mas 2013 me trouxe experiências que desconhecia. Com o desconhecido vieram as atitudes mais comuns, mais piegas, que você houve sempre, de quem passa por alguma dificuldade: você é forte, todo mundo é, quando precisa ser. Primeiro foi um de meus irmãos com câncer. Você só vai sentir a tristeza que é ver alguém que você ama passar por isso, quando tudo passar. Enquanto você precisa ocupar teus finais de semana percorrendo corredores de hospital, segurando a mão no leito, chamando a enfermeira ou simplesmente dizendo "escuta, ele precisa ir imediatamente pra UTI, porque ele não respira", não, você não se sente triste. Você só quer lutar. Mas no final disso tudo, o mais importante é ainda poder lutar. Já a morte, essa te derruba sem chance. Há dois meses perdi meu avô. E a gente não pensa na rapidez da morte. Você pisca e ela chega numa tarde gostosa de sábado. O mundo não se prepara pra receber a morte. Ela só chega. Foi a primeira pessoa que faleceu na nossa família, então, bem, a gente ainda tá vendo no que isso dá. Por hora, vem essa tristeza. Uma tristezinha, que a gente vai sentindo dia após dia por um não sei quê. Um passar de dia diferente. Uma vontade de chorar. E como a gente não tá acostumado com tudo isso, a gente lembra do vô, mas a gente não liga, assim, logo de cara uma coisa com a outra. Porque o toque é tão de leve. É um minutinho pra olhar pela janela. É um segundo pra parar o trabalho. É um momentinho que a gente respira mais demorado. E sente. Sente o espaço que ficou vazio. A cadeira na mesa que sobrou. O radinho que não foi mais ligado no domingo de manhã. O silêncio que a voz não preencheu mais. O chapéu que ninguém mais usou.
É a vida, que não volta.
É a vida, que passou. 

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