Quando a gente é criança percebe alegria em tudo. Lembro-me de quando ia inúmeras vezes no mercadinho da rua de cima, a pedido do pai ou da mãe pra comprar algo que faltava. Eu ia faceira da vida, porque o troco ficava sempre pra mim. O que uma criança pensa em comprar? Às vezes dez centavos era motivo de felicidade.
Aí o tempo começa a passar e vem a preocupação com a escola (sim essa minha mania vem de longe, onde já se viu uma criança ou adolescente se preocupar com a escola? Escola tem que instigar curiosidade, interesse, não preocupação. Mas eu perdia meu tempo me preocupando) e as questões absurdamente fatais da adolescência. Os sonhos começam a ficar um pouco maiores e, claro, mais caros. Dez centavos já não é dinheiro. Engraçado que nessas duas fases os sonhos parecem sempre estar no futuro. O tempo, por ironia, muda com o tempo. Quando se é criança, aiii, como passa devagar. Os adultos costumam dizer "Nossa, como fulana cresceu!" Cresceu pra onde?? Quando se é criança, crescer é uma eternidade.
Adolescente sonha com namorado, talvez. Coisa que descobre, não é tão simples quanto comprar uma bala com dez centavos. Sonha com a futura profissão, talvez. Coisa que descobre, traz consigo um monte de chatices administrativas que não existiam na sua imaginação. Adolescente sonha mesmo. Lembro que eu passava horas no meu quarto, olhando pro teto e ouvindo música. O que se passava na minha cabeça? Um monte de sonhos.
Só que enquanto a gente sonha o tempo começa a correr e não mais a andar. Quando nos damos conta a infância passou, a adolescência tá quase no fim, e você tá batendo na porta da faculdade. E a faculdade? Ah, grande sonho! Sonho caro. O que um jovem sonha em comprar? Quatro, cinco anos de faculdade parecem uma eternidade, novamente ela. Mas não é. Piscou, passou. Último semestre. Monografia. Estágio. Aí, sim. Você cresceu e começa a sentir na pele o peso verdadeiro das preocupações. Não mais saber resolver um problema de matemática da 5ª série. Agora é tua vida que tá em jogo. O futuro chegou.
Com o diploma na mão o mínimo que seus pais esperam é que você consiga um emprego e se sustente sozinho. Mínimo porque não se engane, no fundo eles querem que você seja o melhor profissional de todos os tempos e, de quebra, o mais bem pago.
Esse é o exato momento em que você começa a enlouquecer. E se eu não conseguir um emprego? E se eu conseguir e odiar? E se eu for uma fracasso? Um profissional medíocre? E se eu quiser jogar tudo pro alto e viajar pelo mundo? E se eu quiser fazer concurso público e morar com meus pais pro resto da vida? E se, e se, e se....a vida tá na tua mão, você escolhe o que fazer com ela. A escolha é toda tua. E as consequências também.
Tudo o que se espera é que diante da imensidão de possibilidades que se formam, você diga, enfim, o que quer da vida. Você acha que já disse quando escolheu o curso da faculdade, mas você tinha 17 anos e uma visão bem mais cor-de-rosa de tudo. Hoje você tem consciência. Consciência de que sonhos, para adultos, custam muito, muito mais caro. Que sucesso na profissão exige tempo, aquele, que passa não mais andando, não mais correndo, agora ele passa voando e te deixa feito bobo porque o dia passou. A semana. Mais um ano. Tudo passou e você cresceu.
E agora é preciso saber, porque é o que todos esperam e, mais do que todos, você mesmo quer saber:
O que você quer da vida, agora que você cresceu?
*Texto escrito em uma folha de caderno em 22 de agosto de 2007.