Quando era adolescente cansei de assistir um filme, obviamente na Sessão da Tarde, que se chamava "Quero ser grande". A trama contava a história de um guri que simplesmente queria crescer. Ele jogou uma moedinha numa espécie de boneco, fez o pedido e na manhã seguinte tchanãm! Ele acorda adulto.
Eu já passei dos 20 anos. Não muito, fique claro. Uns dois ou três passos adiante. Mas o interessante é que sinto uma resistência inabalável de assumir que sou adulta. Sempre fui a queridinha da família, a guriazinha. Pois bem, a guriazinha está se formando na faculdade, está indo morar com o namorado, pior, já passou dos 20, e não consegue assumir que é adulta.
Não tenho do que reclamar na minha vida. Levo uma rotina tranquila, escrevo minha monografia, vou no meu estágio, namoro, vejo TV, saio com amigos.
Tudo em seu lugar, mas não pense que isso é entediante. Como todo mundo às vezes estou de mau humor, brigo com Deus e o mundo, essas coisas de gente normal. Mas sabe o que eu acho que é mais difícil de enfrentar? A quantidade maluca de coisas que posso fazer com a minha vida, especialmente quando já se passou dos 20, se está quase formada na faculdade e não se precisa mais do amém dos pais para a maioria das coisas.
Eu posso seguir minha carreira, abandonar meu namorado e me tornar uma grande jornalista. Eu posso ser jornalista, casar, ter filhos e viajar para a praia no verão. Eu posso fazer um concurso público e não ser jornalista. Eu posso abandonar tudo e simplesmente voltar para casa.
Ser grande, acho, significa poder. Quando se é criança, pai e mãe controlam, de maneira absoluta, a sua vida. Adolescente a gente acha que se manda, doce ilusão. Adulto...os pais querem mandar ainda, mas você pode fazer o que você quiser da sua vida.
Só que o poder vem com a terrível palavra responsabilidade. Deu certo? Culpa sua. Deu errado? Parabéns, a culpa é toda sua.
E quem disse que só porque já passei dos 20 anos eu sei o que eu quero poder? Interminável dúvida de uma geminiana. Talvez se você for capricorniano não sofra tanto. Resumidamente, do alto de meu um metro e meio, acho que não quero ser grande.