terça-feira, 31 de maio de 2011

Vale mais o coração

Nas últimas semanas descobri que uma amiga de pouco tempo é lésbica e outra de longa data é bissexual. E outra ainda, fala abertamente sobre seu consumo esporádico de maconha.

Fui criada em uma família extremamente tradicional. Não há espaço para gays, lésbicas ou chapadinhos nela. Os homens são machistas e as mulheres conservadoras. Cresci ouvindo que o natural é homem e mulher, diferente disso não é normal. E, ainda, que drogas não é nada legal. Logicamente desenvolvi um "certo" preconceito. Preconceito através de piadinhas inocentes e de posturas certinhas.

Só que um dia eu saí pro mundo. E o mundo está cheio de gays, lésbicas e maconheiros, então como agir? A verdade é que a fala desvirtuou da ação. Na prática não consegui ser preconceituosa. Gosto da ideia tradicional do homem e da mulher e ainda continuo sendo uma guria que nunca provou maconha ou outro tipo de droga ilícita e nem tem vontade de provar. Isso é basicamente o que prefiro para mim, mas saber que alguém do meu lado prefere o contrário não o transforma em uma aberração. Quando minhas amigas me contaram suas escolhas, bem, eu olhei para elas e elas continuavam com dois olhos, duas pernas e uma boca. Continuavam da raça humana, como eu.

Nunca gostei de bicha loca, isso eu confesso. Aquele gay que quer chocar, impôr sua escolha de maneira invasiva. Preconceito, sei bem. Porque é muito mais fácil criar empatia com um gay gente boa, divertido sem ser espalhafatoso, liberal sem ser o estereótipo da pornografia... Preconceito, eu sei. Preciso melhorar. Conheci um assim, também há algumas semanas. Aliás, ele não era gay. Ele mesmo disse que não se definia em nada. Namorou duas meninas e agora sonha acordado em namorar um menino, pra saber qual é. Um cara direto, simples, amante do amor, simplesmente. Isso na teoria me choca. Mas na prática valeu muito mais a simpatia, o riso compartilhado, o bom papo. Pouco importou que gênero humano ele iria levar pra cama naquela noite, afinal, isso não me dizia respeito.

Também não gosto de drogado sem noção. Playboyzinho que gasta o dinheiro do papai e da mamãe em baseado e que não quer nada da vida. Não acho legal usar drogas, mas não posso rejeitar uma amiga por ela fumar de vez em quando, pelo simples fato de que ela é uma ótima amiga. O que ela fumou ou deixou de fumar não muda isso.

Já sobre o sexo, acho que ele é antes de qualquer coisa, intimidade. Apesar de ser praticado por duas pessoas (ou mais, vai saber) é estritamente pessoal. Mesmo vivendo em uma sociedade em que o público e o privado se misturaram, depende somente de cada um colocar o limite que acha correto.

Uma outra amiga sentou ao meu lado semana passada e disse estar incomodada pelo fato de que não digere bem essas diferenciadas opções sexuais e usos alucinógenos. Compreendo ela perfeitamente. É meu pensamento tradicional falando.

Só que eu aceito meu amigos gays, lésbicas e bissexuais - com uma naturalidade espantosa para mim mesma -, sem que isso signifique que sou simpatizante ou que deixei de ser tradicional. Continuo sendo certinha, continuo querendo casar na igreja de branco, daquele jeito bem démodé. Se bem que nesse mundo, nada mais é fora de moda. Acho que hoje essa é a grande questão. Faça o que quiser, desde que isso te faça bem e não faça mal a ninguém.

Acho que com o tempo aprendi que respeito caminha lado a lado com o amor, não interessa que forma ele adquira. Assim como eu tenho o direito de querer para a minha vida posturas tradicionais e certinhas, quem está ao meu lado tem o direito de querer para sua vida posturas modernas e "erradinhas".

Não esquecendo que o que é errado pra mim, pode ser certo pra alguém.
Como diz Cássia Eller em uma música que adoro "Não importa o compromisso, vale mais o coração".

É. Resumindo, vale mais o coração...


quinta-feira, 5 de maio de 2011

Que sorte a minha

Não sei o que fiz em outra vida. Mas suspeito que não tenha sido uma pessoa muito maligna. Digo isso porque quando paro pra pensar na minha vida (e isso acontece zilhões de vezes por dia) sempre acabo percebendo o quanto sempre fui rica. Não, eu não tenho dinheiro pra comprar um apartamento de 3 milhões com vista panorâmica pro mar, nem mesmo coisas bem simples (no momento um roupeiro para poder enfim, desfazer minhas malas que guardam minhas roupas desde início de março). Eu não tenho tudo o que eu quero, mas tenho uma riqueza que carrego no peito e não é gasta, nunca. Sempre comento que já morei em inúmeros lugares (não vejo a hora de pousar minhas asinhas em algum lugar definitivamente) e em todos, TODOS, eu sempre conheci pessoas que me trataram tão bem, mas tão bem, que ás vezes eu até me senti constrangida, afinal eu nem fazia nada. Pessoas que mesmo diferentes, em idade, em comportamentos, em conhecimento, rico ou pobre, me receberam de braços abertos.

2011, cidade nova, casa nova, vida nova. E as pessoas novas que chegaram, o que dizer? As conheço, certamente, há muito mais que ínfimos 2 meses. As conheço de anos, como amigos queridos que nos aconchegam com tantos sorrisos. Tardes de aulas de matar, leituras que a gente não entende nada, finais de semana encerrados em casa, estudando, estudando, estudando. E no meio desse mundinho particular, rimos, rimos muito, entre nossos cafés, festas de aniversário surpresa, cervejinhas no fim da aula, aventuras por lugares perigosos da cidade, amizades com cachorros de rua mancos, lasanhas regadas a um bom vinho, e muitas conversas tão filosóficas quanto idiotas, sem fim.

Se morresse amanhã, certamente eu diria: Não constituí fortuna, não arrecadei dólares, jóias, imóveis, carros zero, roupas caríssimas ( o que não não implica que um dia eu não queira adquirir). Mas, ah! Como fui rica. Rica da riqueza mais rica que alguém pode enriquecer. Rica de olhares sinceros, de risos companheiros, de passos nunca sozinhos, rica, dos melhores amigos. 
Que sorte, eu diria, que sorte a minha!